terça-feira, novembro 30, 2004

Foi pena a sotaina

Era de noite.
E chovia.
Lá longe, numa aldeia distante.
Onde a sociedade ainda era fechada e a religião governava.
E um íncola lá da aldeia ao passar junto à capela, vindo do tasco, ouviu ruídos.
Ruídos que vinham de dentro.
Estremeceu.
Depois a sobriedade restabeleceu-se, os olhos esbugalharam-se e voltou atrás o mais depressa que as pernas lhe puderam.
Entrou e não falou antes de beber. Sentou-se e resfolegou até que a tremedura amainou e lhe permitiu balbuciar palavras que se percebessem.
Não tardou muito até se formar a populaça cega.
Brandia enxadas, forquilhas, e paus apanhados a caminho.
E quando chegou ao local já o prognóstico era mais válido que uma escritura.
Se não era o diabo, era um discípulo.
E por isto, entre os cus onde não cabia uma agulha e os cantos da boca que espumavam, não havia quem se afoitasse.
Não havia, a não ser um peito que se pôs p’ra fora depois de se encher de valentia.
E entrou.
E assim se soube que o burro não tinha bússola.
E que roeu a sotaina à entrada da sacristia.