segunda-feira, março 08, 2004

Felicidade

A senhora Pinto escreveu há pouco tempo numa crónica de jornal algumas coisas com validade.
Mas chega de elogios.
A certa altura diz que “(...)sem a escrita não era feliz e quem não é feliz não é ninguém.”
Não posso, no meu perfeito juízo, deixar de arremessar contra isto, contra esta segunda ideia.
Numa dedução elementar, uma pessoa triste não é ninguém.
Nada de mais errado.
A infelicidade é um direito tão legítimo como o de ser e são compatíveis.
No entanto para uma melhor compreensão, seria ideal haver da parte da senhora Pinto uma definição de “ser alguém”.
À falta desse esclarecimento interprete-se o que se lê.
Nesta sociedade, em que impera cada vez mais a tirania do politicamente correcto, a anestesia do horror comprazido, a unanimidade que escusa a dor de pensar e a felicidade que a publicidade quer dar a entender que existe, para dar alguns exemplos, onde se vende o corpo e alma afectando um inefável desejo de ser “estrela”, a esperança está exânime.
O fosso da formicação jaez está instalado e o rebanho é ordeiro.
E isto, é conveniente à televisão e aos bastidores poderosos o que torna difícil a inversão do estado de coisas.
Mas só resulta porque há “mercado” e quem se preste a esta serventia.
A televisão, em concreto, tornou-se um espelho desta sociedade que a reflecte, a felicidade é em grande medida utópica e quem tem veleidades de jactância tem dificuldade em perceber isso.
Numa análise realista, quem pensa por conta própria sabe que quanto mais o faz mais a tristeza se agiganta.
E tem uma existência real. Além da dos idiotas, como os apologistas da piada infantil do palavrão que por aí pululam, para concretizar, que são felizes com muito mais facilidade.
Não há tanta rosa para tanta cor.