domingo, fevereiro 29, 2004

Lixo

Ainda há pessoas que andam a pé. Que caminham.
E que escusam pagar uma consulta ao Sr. Dr. médico para descobrir que é saudável.
Além das vantagens cardíacas que são a bandeira deste conselho, parece quase nunca ocorrer que também pode ser um prazer.
Resulta disto o que não é difícil de ver. São grupos de pessoas em romaria com semblante de frete, a apontar para a biqueira da bota ou sapato, enquanto cumprem, lentamente, a ordem.
Andam pelas vias principais, onde há carros a mais e que incomodam – até nos passeios.
Se o prazer de andar a pé ocorresse mais, talvez se ganhasse na saúde e se poupasse na consulta.
E já que se trata, em grande medida, de prazer, quem em caminhada vai além dos perímetros das cidades, vilas, aldeias ou lugares, conhece-os bem. Pode ser o de se passar numa rua de menos afluência e poder-se parar a conversar com uma pessoa que nos conte histórias de outros tempos ou nos ensine o nome duma planta (aprende-se muito mais do que numa ida a um centro comercial).
E se se continuar para os caminhos de terra batida e das veredas há um sem fim de prazeres. Demoraria uma série de folhas A4 inumerá-los todos. E não conseguiria.
Mas um deles é sem dúvida o aspecto estético do cenário.
O homem, por mais que tente, não lhe consegue igualar a beleza. A beleza de uma mimosa florida, para dar um exemplo. Aquele amarelo de contraste ao azul do céu é inigualável.
No entanto, o Homem, em larga percentagem dos casos, representado por casalinhos imberbes e muitas vezes borbulhentos, tem a capacidade de vir com a caixinha da pizza ou o providencial saquinho da comida rápida que depois deita fora do carrinho que o papá abastado lhe comprou. Pior que isso, só os despojos que ficam resultantes dos procedimentos que depois se seguem.
E a essa gente não lhe ocorre, porque é de facto medíocre, que pode acontecer uma criança andar por ali e não ter consciência do que apanha do chão. Ou do que é.
Existem também algumas representações que não são adolescentes. Mas não deixam de ser imberbes apesar da barba. Falo por exemplo de colchões e electrodomésticos para dar dois exemplos. Não são "teens" que os vão descarregar.
Infelizmente, isto acontece também por se saber que é difícil haver imputabilidade.
A capacidade de recuperação da Natureza é admirável, mas isto não confere aos idiotas o direito de ir contra ela só por lhes dar mais jeito.
Ou lucro. Mas os do lucro são outro caso. Outra categoria.
E o lixo, o lixo propriamente dito, é esta mentalidade obtusa.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

Salvação

Vivemos num país onde proliferam os “salvadores”.
Mas, como ninguém, a não ser os moscardos de circunstância, sabe das veleidades de messias que professam, anunciam-se.
E apresentam soluções - só comparáveis à descoberta da pólvora - para a salvação.
Do país claro.
Mas esta gente, que tanto amor tem à pátria, que tanto bem lhe quer, não a conhece.
Ou melhor, conhece mas de helicóptero.
E as incursões pelo território em época pré-eleitoral não chegam.
Os discursos, sempre retóricos, já não iludem. A não ser que dê jeito.
E o povo, que é quem de facto sabe quais são os problemas porque os vive, sabe disto.
Contudo, há uma nova esperança. Optimismo. Muito optimismo.
Estamos salvos.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Sebastianismo



Ao contrário da ideia que se tem logo, não é um exclusivo da nossa pátria (perdoem-me os patriotas).
Ou não perdoem.
O povo, por cá, decidiu aproveitar o nome do rei, com bilhete só de ida para a guerra e ficou.
Não está mal.
Noutras paragens tem outros nomes relacionados com outras situações.
É um pouco como na religião em que são vários os nomes atribuídos a Deus o qual, aliás, teria dado, creio, um bom espião - tem uma lista de nomes considerável e nunca ninguém o viu.
E o sebastianismo, para provar que está de saúde, decidiu manifestar-se no mundo das entidades que têm a pretensão de governar o país.
Sim, falo da política caseira. E decidiu manifestar-se através do conhecido estadista.
Ou foi ele, o Sr. Silva, que decidiu para já, sabendo que o povo é de facto sebastianista, aproveitar o facto e tomar o pulso das massas. E sabe também que há muito pateta das luminárias a babar-se com a possibilidade do seu regresso. Se regressar será pretexto para masturbação das unanimidades (as pró naturalmente) nas quais se incluem os entusiastas de caravana.
E irá livrar-nos da entidade conspícua que conhecemos.
E dele? Quem nos livrará?
Proponho à nação que faça uma vaquinha e contrate um mouro...